Documentação Imobiliária: Guia Completo Para Não Ter Dor de Cabeça
Quando você decide comprar ou vender um imóvel, a documentação é o alicerce de tudo. Sem papéis em ordem, aquela casa dos sonhos pode virar um pesadelo de dívidas, processos e dores de cabeça. A documentação imobiliária não é apenas burocracia — ela protege seu patrimônio e garante que a negociação aconteça com segurança jurídica.
Neste artigo, você vai descobrir:
- Quais documentos são essenciais em uma transação imobiliária
- A diferença entre escritura e matrícula (muita gente confunde isso)
- Certidões obrigatórias para comprar um imóvel com segurança
- Quanto você vai gastar com toda a documentação
- Como identificar e evitar fraudes documentais
- Erros comuns que podem travar ou anular a compra
- Quando procurar um advogado imobiliário para te ajudar
O Que é Documentação Imobiliária
Documentação imobiliária é o conjunto de papéis que comprovam a situação legal de um imóvel e das pessoas envolvidas na negociação. Pense nela como o “RG e CPF” do seu imóvel: sem esses documentos, você não consegue provar que é o dono, nem vender ou comprar com tranquilidade.
Existem três grupos principais de documentos:
- Documentos pessoais (RG, CPF, certidão de casamento)
- Documentos do imóvel (matrícula, escritura, IPTU)
- Certidões negativas (que mostram se há dívidas ou processos)
Quando qualquer um desses grupos está incompleto ou desatualizado, a transação pode ser suspensa pelo cartório ou até gerar prejuízos financeiros no futuro.
Diferença Entre Escritura e Matrícula
Muita gente acha que escritura e matrícula são a mesma coisa, mas não são. A escritura é o documento que oficializa a compra e venda — ela é feita no cartório de notas e tem todas as informações sobre o negócio: preço, forma de pagamento, quem comprou, quem vendeu.
Já a matrícula é o registro público do imóvel, feito no cartório de registro de imóveis. Ela funciona como uma “certidão de nascimento” do imóvel: mostra quem é o dono, qual o tamanho do terreno, se tem dívidas, se está hipotecado, se já foi vendido antes.
A escritura sozinha não te torna dono do imóvel. É preciso registrar essa escritura na matrícula para que a transferência seja válida perante a lei. Sem o registro, você pode até ter pago pelo imóvel, mas não é considerado proprietário legal.
Documentos Pessoais Necessários
Para comprar ou vender um imóvel, você vai precisar apresentar seus documentos pessoais básicos. Isso vale tanto para o comprador quanto para o vendedor.
Documentos do comprador:
- RG e CPF originais
- Comprovante de residência atualizado
- Certidão de casamento (ou divórcio, se for o caso)
- Comprovante de renda (holerite, declaração de imposto de renda)
- Carta de crédito do banco, se for financiar
Documentos do vendedor:
- RG e CPF originais, inclusive do cônjuge
- Certidão de casamento atualizada (expedida há menos de 90 dias)
- Pacto antenupcial registrado, se houver
- Certidão de óbito (se for viúvo)
- Informações sobre profissão e endereço
Se o vendedor for uma empresa, a lista muda: é preciso CNPJ, contrato social, última alteração, certidão negativa da Receita Federal e do INSS, além dos documentos de quem vai assinar pelo negócio.
Documentos Essenciais do Imóvel
A documentação do imóvel é a parte mais importante — e também a mais técnica. É aqui que aparecem as informações que vão dizer se você está comprando um bem seguro ou uma bomba-relógio.
Matrícula Atualizada
A matrícula é o documento mais importante de todos. Ela precisa estar atualizada — emitida há no máximo 30 dias. Na matrícula, você consegue ver quem é o dono atual, se o imóvel tem hipoteca, penhora, usufruto ou qualquer outra restrição.
Certidão de Ônus Reais
Essa certidão mostra se o imóvel tem alguma “dívida grudada” nele: hipoteca, penhora, litígio judicial. Se o imóvel estiver com algum ônus, você pode estar comprando um problema sério. A validade também é de 30 dias.
Escritura Pública Registrada
É o documento que oficializa a compra e venda anterior. Se o vendedor não tem escritura registrada em nome dele, ele não pode vender o imóvel — ou pelo menos não deveria.
IPTU Quitado
O carnê do IPTU atualizado e quitado prova que o imóvel não tem dívidas de imposto municipal. Em algumas cidades, é possível emitir uma certidão negativa de débitos pela internet.
Habite-se
O Habite-se é um documento emitido pela prefeitura que atesta que o imóvel foi construído de acordo com as normas e está apto para ser habitado. Nem sempre é exigido para transações de imóveis antigos, mas é recomendado verificar.
Certidão de Quitação Condominial
Se o imóvel for apartamento, sala comercial ou casa em condomínio fechado, você precisa de uma declaração do síndico ou da administradora confirmando que não há dívidas de condomínio.
Certidões Obrigatórias Para Comprar
Além dos documentos do imóvel, existem certidões que você deve solicitar do vendedor. Essas certidões servem para confirmar que o vendedor não tem dívidas ou processos que possam comprometer a venda.
Certidões da comarca do imóvel:
- Certidão da Justiça Federal
- Certidão de Ações Cíveis e Executivos Fiscais
- Certidão dos Cartórios de Protestos
Certidões da comarca do vendedor:
- Certidão de Ações Cíveis
- Certidão de Executivos Fiscais (municipais e estaduais)
- Certidão de Ações Trabalhistas
- Certidão da Justiça Federal
Hoje em dia, muitas certidões podem ser emitidas gratuitamente pela internet, nos sites dos tribunais. Basta informar o CPF ou CNPJ da pessoa.
Documentação Para Imóvel Rural
Se você está comprando ou vendendo um imóvel rural, a lista de documentos muda um pouco. Além da matrícula e das certidões comuns, você vai precisar de:
- Certificado de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR), emitido pelo INCRA
- Comprovantes de pagamento do Imposto Territorial Rural (ITR) dos últimos 5 anos
- Declaração do Imposto sobre a Propriedade Rural (DITR)
- Certidão da Secretaria do Patrimônio da União (se o imóvel for em terreno de marinha)
Esses documentos são obrigatórios e, sem eles, a escritura não pode ser lavrada.
Quanto Custa a Documentação Imobiliária
Um dos pontos que mais geram dúvidas é quanto você vai gastar com toda a documentação. No total, prepare-se para desembolsar entre 3% a 5% do valor do imóvel. Esse valor inclui escritura, registro, ITBI e certidões.
Principais Custos em 2025
ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis): É o imposto municipal que incide sobre a compra de imóveis. A alíquota varia de cidade para cidade, mas geralmente fica entre 2% e 3% do valor do imóvel.
Escritura Pública: Custa cerca de 1% a 2% do valor do imóvel. Para um imóvel de R$ 400.000, você vai pagar aproximadamente R$ 4.000 a R$ 8.000 pela escritura.
Registro no Cartório: O registro também fica em torno de 0,5% a 1% do valor. Para o mesmo imóvel de R$ 400.000, seria mais ou menos R$ 2.000 a R$ 4.000.
Certidões: O conjunto de certidões necessárias custa entre R$ 300 a R$ 1.000. Algumas certidões são gratuitas, mas outras cobram taxas pequenas.
Tabela de Custos Por Valor do Imóvel
| Valor do Imóvel | Escritura (1-2%) | Registro (0,5-1%) | ITBI (2-3%) | Total Estimado |
|---|---|---|---|---|
| R$ 200.000 | R$ 2.000-4.000 | R$ 1.000-2.000 | R$ 4.000-6.000 | R$ 7.000-12.000 |
| R$ 400.000 | R$ 4.000-8.000 | R$ 2.000-4.000 | R$ 8.000-12.000 | R$ 14.000-24.000 |
| R$ 600.000 | R$ 6.000-12.000 | R$ 3.000-6.000 | R$ 12.000-18.000 | R$ 21.000-36.000 |
| R$ 800.000 | R$ 8.000-16.000 | R$ 4.000-8.000 | R$ 16.000-24.000 | R$ 28.000-48.000 |
| R$ 1.000.000 | R$ 10.000-20.000 | R$ 5.000-10.000 | R$ 20.000-30.000 | R$ 35.000-60.000 |
Quem Paga Cada Taxa
Em geral, o comprador paga o ITBI, a escritura e o registro. Já as certidões podem ser divididas entre comprador e vendedor, dependendo do que for negociado. É importante deixar isso claro no contrato de compra e venda.
Incluir Custos no Financiamento
Se você vai financiar o imóvel, pode incluir até 5% do valor total no financiamento para cobrir despesas de documentação. Isso facilita muito para quem não tem todo o dinheiro da entrada mais os custos adicionais.
Como Evitar Fraudes na Documentação
Fraudes com documentação imobiliária são mais comuns do que você imagina. Golpistas se aproveitam da complexidade dos papéis para enganar compradores desatentos. Mas existem sinais de alerta que você pode identificar.
Tipos de Fraudes Mais Comuns
Falso proprietário: A pessoa se passa por dona do imóvel com documentos falsificados. Ela apresenta RG, CPF e até escritura falsos, convence o comprador e depois desaparece com o dinheiro.
Documentação completamente falsificada: Escrituras, certidões e até matrícula são falsificadas. O comprador só descobre quando tenta registrar o imóvel no cartório e percebe que tudo era fraude.
Venda dupla do mesmo imóvel: O golpista vende o mesmo imóvel para duas ou mais pessoas ao mesmo tempo. Quem registrar primeiro fica com o imóvel, e os outros perdem o dinheiro.
Imóveis inexistentes: Anúncios de imóveis que não existem ou com endereços falsos. O golpista recebe sinal ou entrada e desaparece.
Sinais de Alerta Para Identificar Golpes
Preço muito abaixo do mercado: Quando a oferta parece boa demais para ser verdade, desconfie. Golpistas usam preços baixos para atrair vítimas rapidamente.
Pressa na negociação: Vendedor que pressiona para fechar rápido, sem dar tempo de verificar documentos. Isso é um sinal clássico de fraude.
Não permite visitas: Vendedor que inventa desculpas para não mostrar o imóvel pessoalmente. Isso pode indicar que o imóvel não existe ou ele não tem acesso.
Documentos apenas digitais: Vendedor que só apresenta cópias digitais e nunca mostra originais. Documentos podem ser facilmente adulterados no computador.
Como Se Proteger
Verifique documentos nos sites oficiais: Acesse o site do cartório de registro de imóveis e confirme se a matrícula é verdadeira. Muitos cartórios permitem consulta online.
Visite o imóvel pessoalmente: Converse com vizinhos e com o síndico do prédio. Pergunte se conhecem o vendedor e há quanto tempo ele mora lá.
Confira a identidade do vendedor: Compare o RG apresentado com a foto e os dados da matrícula. Peça para ver o documento original, não apenas cópia.
Contrate advogado imobiliário: Em casos de valores altos ou situações suspeitas, um advogado imobiliário pode validar toda a documentação. Ele conhece os detalhes técnicos e identifica fraudes que passariam despercebidas.
Erros Comuns na Documentação
Muitas transações imobiliárias atrasam ou até são canceladas por causa de erros simples na documentação. Veja os mais comuns:
Certidões vencidas: A maioria das certidões tem validade de 30 a 90 dias. Se vencerem antes da assinatura da escritura, é preciso tirar tudo de novo.
Informações divergentes: Quando o nome do vendedor na matrícula está diferente do RG, ou a área do imóvel no IPTU não bate com a matrícula. Esses erros exigem retificação, que pode ser feita no cartório ou na justiça.
Falta de averbação de benfeitorias: Se você construiu uma piscina, uma garagem ou ampliou a casa, mas não registrou isso na matrícula, o documento fica desatualizado. Isso pode criar problemas na hora de vender.
Documentos do cônjuge: Em transações imobiliárias, o cônjuge precisa assinar junto, mesmo que o imóvel esteja só no nome de um dos dois. Esquecer isso é um erro grave que impede o registro.
Não verificar autenticidade: Infelizmente, ainda existem casos de documentos falsificados ou adulterados. Por isso, é importante sempre conferir a origem dos documentos no site do cartório ou do tribunal.
Regularização de Imóveis em São Paulo
Se você tem um imóvel em São Paulo e descobriu que a documentação está irregular, existe uma solução. A Prefeitura de São Paulo criou a Lei de Regularização de Edificações, que permite regularizar imóveis construídos até 31 de julho de 2014.
Existem três modalidades:
Regularização Automática: Para imóveis residenciais de baixo valor (até R$ 160 mil) e proprietários isentos de IPTU em 2014. O certificado é enviado automaticamente, sem custos.
Regularização Declaratória: Para imóveis residenciais de maior porte, até 1.500 m², e edificações de uso misto. O processo é 100% digital pelo Portal de Licenciamento da Prefeitura.
Regularização Comum: Para casos mais complexos, que exigem análise técnica detalhada. O prazo pode variar de 90 a 180 dias.
Para regularizar, você vai precisar de documentos como escritura registrada, certidão de matrícula, carnê de IPTU dos últimos 5 anos, planta baixa e memorial descritivo. Um responsável técnico (engenheiro ou arquiteto) também é obrigatório.
Quando Procurar um Advogado
Nem toda compra ou venda de imóvel exige um advogado, mas em algumas situações essa contratação pode evitar prejuízos enormes. Um advogado imobiliário é especializado em direito imobiliário e conhece todos os detalhes legais de uma transação.
Quando consultar:
- O imóvel tem documentação irregular ou incompleta
- Existem dívidas de IPTU, condomínio ou impostos
- O imóvel está em inventário com vários herdeiros
- Você precisa fazer usucapião ou retificação de matrícula
- O contrato tem cláusulas complexas ou abusivas
- Há suspeita de fraude ou documentação falsificada
O advogado imobiliário revisa todos os documentos, identifica problemas que poderiam passar despercebidos e negocia soluções antes que a compra seja concretizada. Ele também elabora contratos claros, justos e que protegem seus interesses.
Documentação Digital e Tecnologia
O Brasil está passando por uma transformação digital no setor imobiliário. Hoje, muitos documentos e certidões podem ser solicitados online, sem precisar ir ao cartório.
O Sistema de Registro Eletrônico de Imóveis (SREI) está em expansão. Ele permite protocolar pedidos de registro de compra e venda, solicitar certidões de matrícula atualizada e acompanhar registros de forma digital. Em muitos estados, já é possível fazer todo o processo de registro sem sair de casa.
Além disso, o Operador Nacional do Sistema Eletrônico de Registro de Imóveis (ONR) utiliza inteligência artificial para digitalizar matrículas de imóveis e estruturar dados de propriedades. A meta é digitalizar todos os dados de propriedades do Brasil, facilitando o acesso e reduzindo erros.
O Mapa do Registro de Imóveis também foi integrado ao Google Street View, permitindo visualizar imagens das áreas consultadas sem precisar recorrer a outras plataformas. Essa novidade agiliza a identificação de detalhes como número de porta e estado de ocupação.
Checklist Completo de Documentação
Para facilitar sua vida, aqui está um checklist prático que você pode usar ao comprar ou vender um imóvel:
Documentos pessoais (comprador e vendedor):
- RG e CPF
- Certidão de casamento atualizada
- Comprovante de residência
- Comprovante de renda (comprador)
Documentos do imóvel:
- Matrícula atualizada (30 dias)
- Certidão de ônus reais
- Escritura registrada
- IPTU quitado
- Habite-se (se aplicável)
- Certidão de quitação condominial (se aplicável)
Certidões do vendedor:
- Justiça Federal
- Ações Cíveis e Executivos Fiscais
- Cartórios de Protestos
- Ações Trabalhistas
Certidões do imóvel:
- Certidão negativa de débitos municipais
- Certidão negativa de débitos estaduais
- Certidão negativa de débitos federais
Imprima esse checklist e vá marcando cada item conforme você reúne os documentos. Assim, você não esquece nada e evita atrasos na hora de fechar o negócio.
Próximos Passos na Documentação
A documentação imobiliária pode parecer complicada, mas quando você entende o que é cada documento e por que ele é importante, tudo fica mais simples. Com os papéis em ordem, você garante segurança jurídica, evita prejuízos e fecha o negócio com tranquilidade.
Ao iniciar uma transação imobiliária, o ideal é reunir os documentos básicos com antecedência. A matrícula atualizada deve ser solicitada primeiro, seguida da verificação de pendências no IPTU e das certidões obrigatórias. A verificação da autenticidade dos documentos é etapa fundamental para evitar fraudes. Em situações complexas, documentação irregular ou suspeita de irregularidades, a orientação de um advogado imobiliário especializado pode ser necessária.
Este artigo possui caráter meramente informativo e não constitui aconselhamento jurídico específico. Cada caso possui particularidades que devem ser analisadas por um advogado.
NR Advogados Imobiliários | Apoio jurídico em questões imobiliárias.
FAQ - Perguntas Frequentes Sobre Documentação Imobiliária
O que é documentação imobiliária?
Documentação imobiliária é o conjunto de documentos que comprovam a situação legal de um imóvel e das pessoas envolvidas na negociação, incluindo matrícula, escritura, certidões e documentos pessoais.
Qual a diferença entre escritura e matrícula do imóvel?
A escritura oficializa a compra e venda no cartório de notas, enquanto a matrícula é o registro público do imóvel no cartório de registro de imóveis, mostrando quem é o dono e se há pendências.
Quais certidões são obrigatórias para comprar um imóvel?
São recomendadas pelo menos 7 certidões principais: inteiro teor, ônus reais, IPTU, condomínio (se aplicável), ações judiciais, estado civil e débitos trabalhistas do vendedor.
Quanto custa a documentação de um imóvel em 2025?
A documentação de imóvel custa entre 3% a 5% do valor total da propriedade, incluindo escritura (1-2%), registro (0,5-1%) e ITBI (2-3%).
Quando devo contratar um advogado imobiliário?
Sempre que há valores significativos envolvidos, documentação irregular, dívidas no imóvel, inventário com vários herdeiros, suspeita de fraude ou ações judiciais envolvendo posse ou propriedade.