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Contrato de Gaveta: O Que Pode Dar Errado e Como Evitar Prejuízos

advogada explicando Contrato de Gaveta e seus riscos
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Indice

Muitas pessoas buscam formas mais simples de comprar ou vender imóveis no Brasil.

A burocracia tradicional pode parecer complicada e cara, levando algumas pessoas a considerar o famoso “contrato de gaveta”.

No entanto, essa aparente facilidade pode se transformar em um verdadeiro pesadelo jurídico, colocando em risco todo o patrimônio investido.

O que você vai aprender neste artigo:

  • O que realmente é um contrato de gaveta e como funciona
  • Os principais riscos envolvidos nessa modalidade
  • Quando pode ser considerado válido pela justiça
  • Como regularizar um contrato já feito
  • Alternativas legais e seguras para sua negociação

O Que É Contrato de Gaveta e Por Que Recebe Esse Nome

O contrato de gaveta é um documento informal que registra uma negociação de compra e venda de imóveis entre duas pessoas, sem passar por cartório ou registro oficial. O nome surge justamente porque esse documento “fica guardado na gaveta” até que toda a dívida seja quitada.

Na prática, funciona assim: você encontra um imóvel que quer comprar, mas o vendedor ainda está pagando financiamento. Em vez de passar por toda a burocracia tradicional, vocês fazem um acordo direto – o comprador assume as parcelas do financiamento e pode morar no imóvel, mas legalmente ele continua no nome do vendedor original.

Como Funciona na Prática o Contrato de Gaveta

O processo é relativamente simples do ponto de vista prático:

  • O vendedor e comprador negociam diretamente o valor e condições
  • Assinam um documento particular estabelecendo direitos e deveres
  • O comprador passa a pagar as prestações do financiamento
  • O imóvel permanece registrado no nome do vendedor até quitação total
  • Não há participação de cartório, banco ou imobiliária no acordo

Por Que as Pessoas Escolhem Essa Modalidade

Existem alguns motivos que levam pessoas a optarem pelo contrato de gaveta:

Rapidez no processo: Evita toda a burocracia de aprovação de crédito e documentação bancária

Custos reduzidos: Não há gastos com cartório, ITBI ou outras taxas iniciais

Flexibilidade de negociação: Comprador e vendedor podem estabelecer condições próprias

Acesso para quem tem restrições: Pessoas com problemas no CPF podem conseguir um imóvel

Segundo o Código Civil brasileiro, especificamente o artigo 108, negócios jurídicos que envolvem imóveis de valor superior a 30 salários mínimos devem ser formalizados em cartório. Isso significa que contratos de gaveta não atendem às exigências legais para transferência de propriedade.

Validade Jurídica dos Contratos de Gaveta

A questão da validade é complexa. Embora o contrato de gaveta não tenha força para transferir oficialmente a propriedade, ele pode gerar alguns direitos entre as partes envolvidas:

Entre as partes: O documento pode ser usado para comprovar o acordo e as condições estabelecidas

Contra terceiros: Não oferece proteção alguma, pois não há registro público

Posse vs. Propriedade: O comprador pode ter direito à posse, mas não à propriedade legal

Quando o Contrato de Gaveta Pode Ser Reconhecido

Existem situações específicas onde a justiça pode reconhecer direitos decorrentes de um contrato de gaveta:

  • Comprovação de pagamentos regulares por longo período
  • Boa-fé das partes envolvidas na negociação
  • Benfeitorias realizadas no imóvel pelo comprador
  • Situações onde configurar enriquecimento ilícito do vendedor

Principais Riscos do Contrato de Gaveta Para Compradores

Perda Total do Imóvel e Investimento

O risco mais grave é a possibilidade de perder completamente o imóvel e todo o dinheiro investido. Como legalmente você não é o proprietário, várias situações podem resultar nessa perda:

Dívidas do vendedor: Se o vendedor original contrair dívidas, o imóvel pode ser penhorado para quitá-las

Morte do vendedor: Herdeiros podem questionar a venda e reivindicar o imóvel

Venda dupla: O vendedor pode vender o mesmo imóvel para outra pessoa

Execução judicial: Processos contra o vendedor podem atingir o imóvel

Impossibilidade de Obter Financiamento

Bancos e instituições financeiras não aceitam contratos de gaveta como garantia. Isso significa que você não conseguirá:

  • Usar o imóvel como garantia para empréstimos
  • Refinanciar a dívida em condições melhores
  • Conseguir crédito para reformas ou melhorias
  • Vender o imóvel através de financiamento para terceiros

Problemas de Regularização Futura

Quando chegar o momento de regularizar a situação, você pode enfrentar:

Custos elevados: Taxas, impostos e honorários acumulados ao longo dos anos

Documentação complexa: Necessidade de comprovar todos os pagamentos realizados

Resistência do vendedor: Dificuldades se o vendedor não colaborar com a regularização

Questões tributárias: Problemas com IPTU e outros impostos em atraso

Alternativas Legais e Seguras ao Contrato de Gaveta

Cessão de Direitos com Anuência do Banco

Esta é a forma mais segura de assumir um financiamento. O processo envolve:

  • Solicitar autorização formal do banco financiador
  • Análise de crédito do novo comprador
  • Transferência oficial do contrato de financiamento
  • Registro da operação em cartório

Quitação Antecipada e Nova Compra

Se você tem recursos, uma opção é:

  • Quitar o financiamento restante do vendedor
  • Formalizar a escritura de compra e venda
  • Registrar o imóvel em seu nome imediatamente
  • Fazer novo financiamento se necessário

Financiamento Direto com Recursos Próprios

Para quem tem entrada disponível:

  • Usar recursos próprios para entrada
  • Conseguir financiamento em seu nome
  • Comprar o imóvel de forma tradicional e segura
  • Evitar todos os riscos do contrato de gaveta

Como Regularizar um Contrato de Gaveta Já Existente

Se você já fez um contrato de gaveta e quer regularizar a situação, existem algumas estratégias:

Documentação Necessária

Reúna todos os comprovantes possíveis:

  • Contrato de gaveta original assinado
  • Comprovantes de pagamento das parcelas
  • Recibos de IPTU, condomínio e outras despesas
  • Fotos de benfeitorias realizadas no imóvel
  • Testemunhas que conhecem a negociação

Negociação Amigável com o Vendedor

O caminho mais simples é conseguir a colaboração do vendedor original:

  • Propor quitação antecipada com desconto
  • Dividir os custos de regularização
  • Estabelecer prazo para transferência oficial
  • Formalizar novo acordo com assistência jurídica

Ação Judicial de Adjudicação Compulsória

Quando a negociação amigável não funciona, pode ser necessário recorrer à justiça:

  • Comprovar o cumprimento das obrigações contratuais
  • Demonstrar boa-fé na negociação original
  • Solicitar transferência forçada da propriedade
  • Apresentar toda documentação comprobatória

Situações Especiais: Herança e Sucessão

Quando o Vendedor Original Falece

A morte do vendedor complica significativamente a situação:

Herdeiros podem desconhecer o acordo: É fundamental ter documentação clara e testemunhas

Inventário pode gerar conflitos: O imóvel entra na herança e herdeiros podem questionar a venda

Comprovação torna-se essencial: Todos os pagamentos e a boa-fé devem ser demonstrados

Proteção dos Herdeiros do Comprador

Se você fez um contrato de gaveta e falece, seus herdeiros podem ter direitos:

  • Continuar pagando e reivindicar a propriedade
  • Buscar indenização pelos valores já pagos
  • Requerer adjudicação compulsória judicial
  • Comprovar benfeitorias realizadas no imóvel

Aspectos Tributários dos Contratos de Gaveta

ITBI – Imposto de Transmissão de Bens Imóveis

O ITBI deve ser pago quando há transferência real de propriedade. No contrato de gaveta:

  • O imposto não é recolhido inicialmente
  • Pode gerar multa e juros quando da regularização
  • O valor pode ter aumentado significativamente ao longo do tempo
  • É responsabilidade do comprador no momento da regularização

IPTU e Outros Impostos

Durante a vigência do contrato de gaveta:

IPTU permanece no nome do vendedor: Mas o comprador geralmente fica responsável pelo pagamento

Taxas de condomínio: Responsabilidade de quem ocupa o imóvel

Multas e débitos: Podem ser cobrados do proprietário oficial

Dicas Práticas Para Quem Está Considerando um Contrato de Gaveta

Antes de Assinar: Verificações Essenciais

Se mesmo ciente dos riscos você decidir seguir com um contrato de gaveta, tome algumas precauções:

  • Verifique se o imóvel tem alguma restrição ou penhora
  • Confirme a situação do financiamento junto ao banco
  • Exija documentos que comprovem quitação do IPTU
  • Consulte o cartório sobre eventuais ônus sobre o imóvel
  • Procure referências sobre o vendedor

Durante o Contrato: Proteção Contínua

Mantenha organizada toda documentação:

  • Guarde todos os comprovantes de pagamento
  • Registre benfeitorias realizadas com fotos e notas
  • Mantenha contato com vizinhos como testemunhas
  • Pague em conta bancária deixando rastro
  • Atualize o contrato quando necessário

Proteja Seu Patrimônio Escolhendo o Caminho Certo

O contrato de gaveta pode parecer uma solução rápida e econômica, mas os riscos envolvidos são proporcionalmente altos ao investimento que você está fazendo. Perder um imóvel e todo o dinheiro investido é uma realidade que atinge milhares de brasileiros todos os anos.

A compra de um imóvel é provavelmente o maior investimento da sua vida. Vale a pena proteger esse patrimônio escolhendo alternativas legais, mesmo que envolvam mais burocracia e custos iniciais. O que pode parecer economia hoje pode se transformar em prejuízo muito maior no futuro.

Este artigo possui caráter meramente informativo e não constitui aconselhamento jurídico específico. Cada caso possui particularidades que devem ser analisadas por um advogado.


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FAQ - Perguntas Frequentes Sobre Contrato de Gaveta

O contrato de gaveta não tem validade para transferir propriedade, mas pode gerar alguns direitos entre as partes. Ele não atende às exigências do Código Civil para negócios imobiliários acima de 30 salários mínimos.

Sim. Como o imóvel permanece registrado no nome do vendedor original, ele pode ser penhorado para quitar dívidas do proprietário legal, mesmo que você esteja pagando e morando no local.

A regularização pode ser feita através de negociação amigável com o vendedor, quitação antecipada do financiamento ou, em último caso, ação judicial de adjudicação compulsória com toda documentação comprobatória.

Não. Instituições financeiras não aceitam contratos de gaveta como garantia, impossibilitando financiamentos, refinanciamentos ou uso do imóvel como garantia para empréstimos.

As principais alternativas são: cessão de direitos com anuência do banco, quitação antecipada seguida de compra tradicional, ou financiamento direto em seu nome com recursos próprios para entrada.

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